Chegou a Hora do Funk! Uma Jornada Pela Ascensão do Funk Brasileiro

Com um passado histórico, o funk e artistas como Anitta e MC Ryan SP estão se difundindo globalmente com a ajuda do TikTok e YouTube.

Chegou a Hora do Funk! Uma Jornada Pela Ascensão do Funk Brasileiro
Leo Morel
Leo Morel
August 25, 20237 min read
Permalink Copied

O funk brasileiro, também conhecido como funk, tornou-se um dos estilos musicais mais populares do Brasil e vem ganhando reconhecimento internacional. Apesar do preconceito enraizado, esse estilo musical originário das comunidades carentes do Rio de Janeiro vem obtendo significativa difusão em plataformas como YouTube e TikTok.

A popularização internacional do funk estimulou artistas como a superstar Anitta a se aproximarem de sua essência artística. Em junho, a cantora lançou a música "Funk Rave", marcando a volta da artista ao funk após anos próxima do pop e reggaeton. Em abril de 2022, a artista atingiu a posição 21 no Chartmetric Artist rank, graças ao seu álbum inspirado no funk, Version Of Me.

"O funk é a minha raiz. É o que eu nasci e cresci fazendo. É a minha casa. Fiz essa nova música com a intenção de mostrar a todos essas raízes, o que é mais importante para mim, e liderar com 'Funk Rave' faz exatamente isso", disse Anitta sobre o novo lançamento.

A Origem do Funk

O funk, gênero que se originou na década de 1980, traz influências do hip-hop, do funk norte-americano e de subgêneros do rap, como o Miami bass e o gangsta rap. Um dos produtores fundadores da cena, DJ Marlboro, desempenhou um papel fundamental naquele período, criando versões em português de canções populares do Miami Bass. Em 1989 ele lançou o álbum Funk Brasil, que foi responsável por iniciar o crescimento dessa cena musical local.

Inicialmente associado à violência e ao sexo, o funk começou a ganhar maior notoriedade quando passou dos bailes funk nas favelas do Rio para as festas de cidadãos ricos e de classe alta. Para mudar a narrativa do gênero e ampliar sua abrangência entre as classes sociais, a Indústria Fonográfica Brasileira passou a investir em funkeiros de temática romântica. Sucessos como "Nosso Sonho" de Claudinho & Buchecha e "Me Leva" de Latino ajudaram a elevar esses artistas ao estrelato no país. Ainda assim, apesar de seu sucesso à época, o funk continuou a enfrentar o preconceito nos anos 90.

No século XXI, observou-se a difusão do funk na grande mídia brasileira, com artistas aparecendo em trilhas sonoras de novelas e inspirando novas tendências. O funk ostentação, subgênero voltado para a ostentação da riqueza, surgiu em São Paulo em 2010 como contrapartida ao funk carioca, que retratava a realidade das comunidades de baixa renda.

Na mesma época, o advento das tecnologias digitais possibilitou a entrada de artistas independentes no mercado musical. O YouTube deu voz a artistas de gêneros musicais, como funk e brega, que a indústria brasileira de entretenimento havia marginalizado por anos. A plataforma também desempenhou um papel significativo no lançamento e na reinvenção do formato de videoclipe, com o produtor KondZilla sendo a principal referência. KondZilla, que além de fundar uma gravadora e uma linha de roupas, também produziu uma série da Netflix e foi fundamental para o sucesso de artistas do funk como MC Guimê, MC Kevinho, MC Kekel e Dani Russo.

Desde então, o funk brasileiro apresentou um crescimento exponencial nacional e global, atraindo a atenção de artistas estrangeiros. Colaborações com artistas internacionais como Ty Dolla $Sign, Skrillex e Snoop Dog em faixas como “Malokera” de Mc Lan e “Onda Diferente” de Ludmilla consolidaram ainda mais sua projeção global. E durante o Super Bowl de 2023, Rihanna apresentou um remix funk de seu hit "Rude Boy" o que acabou contribuindo para um ganho de 20 milhões de novos streams no Spotify na versão original da música no mês seguinte da performance.

Em 2022, o mercado musical brasileiro gerou uma receita anual estimada de 2,5 bilhões de reais (US$ 489 milhões), de acordo com o Relatório Global de Música de 2023 da IFPI. Um crescimento de 15,4% em relação ao ano anterior colocou o Brasil entre os dez maiores mercados da indústria fonográfica, demonstrando que o funk e outros gêneros locais possuem grande potencial para difusão em escala global.

As Redes Sociais Promovendo o Funk Globalmente

O TikTok tornou-se um dos principais aplicativos de promoção musical do Brasil, e o funk está rapidamente se tornando um dos estilos musicais mais populares dessa plataforma. A difusão do TikTok no Brasil vem permitindo a expansão da base de fãs de artistas de funk em regiões rurais, distantes dos centros urbanos onde o gênero surgiu. Vale ressaltar que, tradicionalmente, ouvintes das regiões rurais do Brasil dão preferência a estilos musicais como o sertanejo.

Internacionalmente, a plataforma também está promovendo vários subgêneros do funk, sendo um dos mais populares o funk automotivo. Caracterizado por batidas fortes com graves intensos, o gênero foi criado especificamente para ser apreciado em auto-rádios. A faixa "Automotivo Bibi Fogosa", de Bibi Babydoll e DJ Brunim XM é um exemplo do funk automotivo que viralizou no Tiktok, onde já domina as paradas da plataforma em países como Alemanha, Espanha e Holanda.

"Automotivo Bibi Fogosa" também está presente no ranking das paradas globais do Spotify, com destaque na Ucrânia e no Cazaquistão, onde alcançou o primeiro lugar e o segundo lugar, respectivamente. Devido às semelhanças do funk automotivo com a música eletrônica, o gênero ganhou adeptos em dezenas de países ao redor do mundo - principalmente na Europa Oriental.

Outros momentos marcantes para o funk automotivo incluem “Tubarão Te Amo”, que se tornou viral durante a Copa do Mundo de 2022 no Catar. Cantada e produzida pelo DJ LK da Escócia e com participação de MC Ryan SP, MC Daniel, MC Jhenny e MC RF, a faixa alcançou o 3º lugar na parada Daily Viral Songs USA e cresceu 30 milhões de streams no Spotify apenas seis meses após seu lançamento. No TikTok, o "Tubarão Te Amo" apresentou um crescimento expressivo de apenas 90 mil postagens no início dos jogos para dois milhões de postagens após o encerramento da competição.

Mais tarde, em 2023, a faixa foi usada novamente quando a Seleção Feminina da Jamaica dançou ao som da música após uma vitória emocionante sobre o Brasil.

@tntsportsbr

COLOCAMOS AS JAMAICANAS PARA DANÇAR! 🇯🇲🤪 Pelo menos, de forma LITERAL... TNTSportsComElas Crédito: kameronsimmonds #TikTokEsportes #SportsNews

♬ som original - TNT Sports Brasil - TNT Sports Brasil

Outro subgênero de sucesso do funk brasileiro no TikTok é o tamborzão. Trazendo elementos dos primórdios do funk, a faixa "Tá Ok" de Dennis Dj e Kevin O Chris viralizou no TikTok e ocupou o top 5 do Spotify em países como França, Irlanda, Marrocos e Portugal. A faixa foi emblemática para ambos os artistas, pois ajudou Dennis Dj a subir 180 pontos e Kevin O Chris 323 pontos no Chartmetric Artist Rankings.

As Mulheres no Funk

Historicamente, o universo do funk no Brasil possui um perfil predominantemente masculino, o que muitas vezes resultou em um ambiente hostil para artistas mulheres. Artistas como Anitta e Ludmilla procuraram direcionar suas carreiras para o segmento pop, pois isso lhes permitiu ampliar seus públicos e evitar os preconceitos sofridos pelo funk por parte das classes sociais mais ricas no Brasil.

Anitta, por exemplo, lançou-se em 2011 originalmente como MC Anitta, mas abriu mão do termo no ano seguinte para direcionar sua carreira para os fãs pop, já que o termo MC (abreviação de Master of Ceremony - Mestre de Cerimônia) é comumente usado por artistas do rap e hip-hop, especificamente os do funk. A mesma decisão foi tomada por Ludmilla, que apareceu no mercado primeiramente como MC Beyoncé em 2012, mas depois mudou de nome artístico por problemas de registro de marca. E a cantora Lexa, que estreou em 2013 como MC Lexa, abriu mão do termo MC para adotar uma imagem mais pop.

Devido às mudanças de estratégias de público-alvo, essas três artistas, muitas vezes, não são reconhecidas como funkeiras, apesar de seus destaques nesse segmento. Por conta disto, Anitta vem se esforçando para se reconectar com suas raízes do funk. Seu single de junho de 2023, “Funk Rave”, atualmente ultrapassa 30 mil postagens no TikTok, 17 milhões de streams no Spotify e 14,5 milhões de visualizações no YouTube do videoclipe da faixa.

O Futuro do Funk

Há um grande potencial neste momento para os artistas do funk desenvolverem carreiras globais. As produções colaborativas com artistas internacionais continuarão sendo uma excelente ferramenta para promover o funk e seus artistas globalmente. O lançamento de músicas em idiomas como inglês e espanhol pode contribuir para o desenvolvimento da carreira desses artistas internacionalmente, já que o português pode ser um obstáculo para a difusão no mercado global. Por se tratar de música urbana, os fãs de gêneros como rap e reggaeton espalhados pelo mundo podem facilmente se identificar com o funk e tornarem-se seguidores desse estilo musical brasileiro.

10 Artistas do Funk Para Se Ouvir

MC Cidinho e Doca

Chartmetric Artist Rank - 61.967
Subgênero - Deep funk carioca
Cidade - Rio De Janeiro

Claudinho & Buchecha

Charmetric Artist Rank – 24.260
Subgênero – funk melody
Cidade – Rio de Janeiro

Latino

Charmetric Artist Rank – 22.333
Subgênero – funk melody
Cidade – Rio de Janeiro

MC Daleste

Charmetric Artist Rank – 43.858
Subgênero – funk carioca
Cidade – São Paulo

MC Guime

Charmetric Artist Rank – 8.872
Subgênero – Brazilian hip-hop
Cidade – Oscaso

MC Kevin o Chris

Charmetric Artist Rank – 662
Subgênero – funk 150 bpm
Cidade – Duque de Caxias

MC Ryan SP

Charmetric Artist Rank – 554
Subgênero – funk paulista
Cidade – São Paulo

MC Cabelinho

Charmetric Artist Rank – 735
Subgênero – trap funk
Cidade – Rio de Janeiro

MC PH

Charmetric Artist Rank – 2,612
Subgênero – funk paulista
Cidade – São Paulo


Gráficos de Sarah Kloboves e imagem de capa de Crasianne Tirado.
Dados coletados a partir de 21 de agosto de 2023.